Entre o tédio e o pavor: onde (não) me encaixo
O online me entedia. O offline me assusta. E assim sigo, nesse intervalo desconfortável onde existir parece sempre insuficiente, sempre inadequado.
Na vida online, tudo é vitrificado. Uma vitrine infinita de pessoas bem ajustadas, vidas editadas, rotinas plastificadas e discursos embalados a vácuo. Tudo é tão performático, tão calculado, tão previsível… que me cansa. Me esgota esse eterno desfile de personagens que se vendem como versões definitivas de si mesmos.
Me cansa a superficialidade dos debates, me entedia a fome por validação, me sufoca a obrigação de estar o tempo todo presente, produzindo, opinando, existindo em alta resolução. Me pergunto, quase todos os dias, se estar online é, de fato, estar.
Mas basta eu desconectar para descobrir que o lado de cá também não é mais lar. O offline me apavora. É aqui que o silêncio ganha volume, que o inesperado me encara sem filtros, que as relações não têm botão de desligar, nem opção de arquivar. É aqui que eu não posso editar minha expressão, nem revisar minhas respostas antes de entregá-las ao mundo.
É aqui que o olhar do outro me atravessa de verdade, e, com ele, vem a velha conhecida: a ansiedade social. O pavor de errar, de ser estranha, de não saber como se move quem nunca aprendeu a habitar plenamente o próprio corpo.
O offline exige presença. E presença, para mim, às vezes dói mais do que ausência. No online, eu posso me esconder atrás de palavras bonitas, de fotos bem enquadradas, de áudios que gravo e regravo até soar segura. Aqui fora, não. Aqui fora, sou gaguejo, sou silêncio desconfortável, sou corpo que não sabe muito bem onde colocar as mãos.
Fico, então, nesse não-lugar. Conectada demais para me desligar. Desligada demais para me conectar. O online me cansa. O offline me amedronta. Onde é que se respira? Às vezes penso que nasci na era errada. Outras, penso que talvez o problema não seja o tempo, nem o mundo, talvez o problema seja nunca ter aprendido, de fato, a estar.
Porque, no fundo, o que me apavora no offline não é o mundo, sou eu, sozinha, sem curadoria, sem roteiro, sem a segurança do digital. E o que me entedia no online não é a internet, é o cansaço de ter que ser alguém o tempo inteiro. Ser alguém… ou, ao menos, parecer ser. Porque, verdade seja dita, ninguém é plenamente no online. E poucos sabem ser plenamente no offline.
Talvez o ponto não seja escolher entre um ou outro. Talvez seja, pela primeira vez, tentar existir fora das extremidades. Nem hiperconectada, nem socialmente paralisada. Apenas… presente. Ainda não sei como se faz isso. Mas sei que não quero mais existir apenas na performance do online, nem sobreviver no pavor do offline.
Quero, quem sabe, construir um meio-termo. Um lugar onde não precise estar sempre disponível, mas também não precise desaparecer para existir. Um lugar onde haja espaço para a pausa, para o silêncio, para a imperfeição, seja na tela, seja fora dela. Porque, no final, o que cansa não é estar no mundo. É ter que o tempo todo provar que merecemos estar.